Santos e Orações

Conheça as origens e compreenda o significado da Via Sacra

A Via Sacra é uma das tradições mais antigas e com maior significado para o povo cristão. Associada à Quaresma, representa a reprodução do caminho de Jesus até ao Calvário. Conheça a sua origem e compreenda o que representa.

A sua designação vem do Latim "Via Crucis", que significa "o caminho da Cruz": a Via Sacra representa o caminho que Jesus percorreu até à Cruz. 

A origem desta prática é muito antiga: conta-se que, após a morte de Jesus, Nossa Senhora percorria, como forma de consolar o seu coração de Mãe, os lugares por onde o seu Filho havia passado até ao Calvário. Os fiéis passaram, então, a imitá-la, e há registos de que já no século IV os cristãos se deslocavam à Terra Santa para revisitar os lugares da Paixão de Jesus. 

Esta prática era feita para que cada cristão prestasse a sua homenagem ao martírio de Jesus, refletindo ao longo do seu caminho de dor.

No período das Cruzadas, entre os séculos XI e XIII, surgiu, então, a tradição de reproduzir em cada localidade, em cada país, o caminho que Jesus percorreu até à Cruz, para que todos os cristãos pudessem fazer esta homenagem, mesmo que não tivessem possibilidade de ir à Palestina. Segundo os registos encontrados, foi no século XIII que surgiram as estações da Via Sacra, descrevendo assim o seu itinerário. Inicialmente era composta por muitas mais estações do que as 14 que hoje são reverenciadas; a Via Sacra chegava, na altura, a demorar um ano a ser percorrida.

A Via Sacra é, mais do que um caminho físico, uma caminhada espiritual, um percurso simbólico, de comunhão com Cristo no seu sofrimento e de gratidão pelo seu ato de profundo amor.

A Via Sacra é praticada nas Igrejas na Sexta-feira Santa, mas pode ser feita por qualquer cristão no momento que sentir ser o mais apropriado para si. É uma reflexão individual, de encontro com Nosso Senhor, uma peregrinação mental que cada cristão pode e deve fazer.

A Via Sacra é composta por 14 estações, que são os pontos especiais do percurso de Jesus até à Cruz. Em cada estação, reflete-se sobre o significado desse momento na caminhada e sobre o simbolismo desse acontecimento, rezando-se uma oração especial. 

 

Estas são as 14 estações da Via Sacra:


1. Cristo é condenado à morte                        

Mateus 27, 22-26:

22. Tornou-lhes Pilatos: Que farei então de Jesus, que se chama Cristo? Disseram todos: Seja crucificado.
23. Pilatos, porém, disse: Pois que mal fez ele? Mas eles clamavam ainda mais: Seja crucificado.
24. Ao ver Pilatos que nada conseguia, mas pelo contrário que o tumulto aumentava, mandando trazer água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo: Sou inocente do sangue deste homem; seja isso lá convosco.
25. E todo o povo respondeu: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.
26. Então lhes soltou Barrabás; mas a Jesus mandou açoitar, e o entregou para ser crucificado.

 

Mesmo sabendo que Jesus era inocente, Pilatos condenou-o à morte. O povo estava voltado contra Jesus, incitado por aqueles que o caluniaram. Jesus sofreu a injustiça de ser condenado, sendo inocente. Aceitou com resignação a sua condenção, não respondendo com ódio mas apenas com amor.

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes já foi acusado injustamente na sua vida? Recorde esta passagem da vida de Jesus e compreenda como ele aceitou o seu sacrifício, ensinando-nos a nós a suportar mesmo as injustiças, as calúnias e as condenações. 

 

2. Jesus carrega aos ombros a Cruz 

Colocaram sobre Jesus um manto vermelho, puseram-lhe uma coroa de espinhos na cabeça, troçaram dele e insultaram-no. Jesus não respondeu, não procurou defender-se, aceitou todas as injúrias que lhe faziam.

Lucas 14, 27:

"Quem não tomar a sua cruz para me seguir não pode ser meu discípulo". 

 

Vale a pena refletir sobre...

Assim como Jesus carregou a sua própria Cruz, também nós temos de carregar a nossa, suportando os momentos mais difíceis e as fases mais dolorosas, lembrando-nos que no exemplo de Jesus nos aproximamos dele.

 

3. Jesus cai pela primeira vez

Por se encontrar fraco pelos açoites que já levara e por estar exausto, Jesus, logo após dar os primeiros passos, caiu sob o peso da Cruz. A primeira queda de Jesus simboliza o peso do nosso pecado, pelo qual Jesus caíu. Simboliza, também, a sua voluntária humilhação para nos erguer do nosso orgulho. Em vez de se fazer valer da sua condição de Filho de Deus, Jesus 

 

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes o peso das circunstâncias nos sobrecarrega e nos faz mesmo cair no nosso percurso? Quantas vezes sentimos que não somos capazes de voltar a erguer-nos e avançar com tudo aquilo que tanto nos pesa nos ombros?

 

4. Jesus encontra a sua Santíssima Mãe

Maria sofre as dores do seu Filho, a Cruz que ele carrega pesa sobre o coração dela também. O encontro de Maria com Jesus a caminho do Calvário é uma das dores de Nossa Senhora.

 

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes já viu sofrer aqueles que mais ama? Quantas vezes o seu coração se apertou na incerteza, na angústia e no desespero de nada poder fazer por alguém que ama? Compreenda, à luz do encontro de Maria e Jesus, como também Maria sofreu pelo seu Filho.


5. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a cruz

 

São Mateus 27, 32; 16, 24

32. Ao saírem, encontraram um homem cireneu, chamado Simão, a quem obrigaram a levar a cruz de Jesus.
24. Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me.

 

Enquanto Jesus prosseguia até ao Calvário, encontraram, a dada altura do caminho, um homem que regressava do campo, onde trabalhava. Chamava-se Simão e era de Cirene, ficando por isso conhecido como o Cireneu. Porque era um homem robusto, habituado ao trabalho do campo, os soldados puseram-lhe às costas a Cruz de Jesus, que mal conseguia erguê-la, pois temiam que ele falecesse antes de ser crucificado. O Cireneu ficou comovido com a dor silenciosa de Jesus e assim ajudou-o a carregar a Cruz durante uma breve parte do percurso.

 

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes podemos ajudar os outros a carregarem as suas cruzes, aliviando-os um pouco do peso que carregam? Quantas vezes uma palavra, um simples gesto, contribuem para aliviar o peso que alguém tem dentro de si, muitas vezes até sem fazer alarido dele? Sempre que vamos ao encontro de alguém que está a sofrer, sempre que defendemos alguém que está a ser injustiçado, estamos a unir-nos a Jesus. Estamos a ser como o Cireneu, que aceitou tomar o peso da Cruz de Cristo.

 

6. Verónica enxuga o rosto de Jesus

Quando Jesus passa, uma mulher, chamada Verónica (ou Berenice, em Grego), compadeceu-se do seu sofrimento e, com o seu próprio lenço, limpou o rosto de Jesus, cheio de sangue e suor. Não se deixou intimidar pelos soldados nem se deixou estarrecer pela dor dos discípulos: viu apenas o amor, avançando com a sua bondade. No início, via ali apenas um homem que, injustiçado, estava num profundo sofrimento. Mas, após limpar o rosto de Jesus com o seu lenço, assistiu a um milagre: o rosto de Jesus ficou impresso no lenço com que o limpara.


Vale a pena refletir sobre...

Só a pureza de coração nos permite "ver" realmente o rosto de Deus. Só com um coração puro, só quando agimos movidos pela bondade, pelo amor e pela genuína entrega aos outros podemos chegar perto de Deus.

 

7. Jesus cai pela segunda vez

Vergado sob o peso da cruz e exaurido pelo cansaço, Jesus volta a cair. A segunda queda de Jesus representa a nossa repetição dos mesmos erros, o orgulho que nos faz voltar a cair.

 

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes precisamos de cair para aprendermos a deixar de insistir no que não nos faz bem?

 

8. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

Lucas, 23, 27-28:

"Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos»".

Jesus encontra no seu percurso um grupo de mulheres que chora ao assistir ao sofrimento dele. Ainda assim, Jesus adverte-as que de nada serve chorar, se não houver verdadeiro arrependimento e fé em Deus. Este encontro de Jesus com as mulheres de Jerusalém serve para nos lembrar que não adianta lamentar aquilo que não está bem, se não houver da nossa parte uma mudança de atitudes. O sofrimento de Jesus - com o qual as mulheres de Jerusalém foram confrontadas -  representa a personificação dos nossos pecados, sendo a forma de Deus nos fazer compreender o erro em que incorremos.

 

Vale a pena refletir sobre...

Quantas vezes nos compadecemos do sofrimento alheio sem, na verdade, nos deixarmos tocar por ele? Quantas vezes nos comovemos, sem refletirmos sobre a razão para a dor, para a tristeza, para o infortúnio? Será que nos detemos tanto tempo a lamentar que nos esquecemos de fazer a nossa parte, de cuidar do que nos compete? Será que nos esquecemos de agradecer?

 

9. Jesus cai pela terceira vez

Jesus volta a cair, reforçando o quanto os nossos erros, pecados e culpas nos fazem cair, impedindo-nos de avançar, tornando mais dolorosa e pesada a nossa Cruz. A terceira queda de Jesus a caminho do Calvário lembra-nos da importância da esperança, sobretudo quando parece ser impossível reerguermo-nos. Quando está prestes a perder as forças, Jesus já consegue avistar o Calvário, e isso fá-lo reeguer-se, empenhado na missão do seu sacrifício, no gesto de mais profundo amor.

 

Vale a pena refletir sobre...

Deixamo-nos vencer pelo desânimo quando as situações parecem derrubar-nos, porque nos centramos na nossa impotência, e não na fé e na confiança em Deus. Esquecemo-nos de que Deus age através de nós. Que, sejam quais forem as circunstâncias, nada é impossível para quem se deixa guiar por Deus.

 

10. Jesus é despido das suas vestes

Os soldados arrancaram as vestes de Jesus, e deram-lhe vinho com fel a beber, que Jesus recusou. Esta estação da Via Sacra lembra que só despojados de tudo o que temos podemos, na nossa humildade, encontrarmo-nos com Jesus. A roupa de um homem representa a sua posição social; quando as roupas de Jesus são 

 

Vale a pena refletir sobre...

Seremos capazes de nos despojar, verdadeiramente, das nossas posses, do conforto que conquistámos, dos nossos vícios e paixões? Seremos capazes de permitir que nos tirem tudo, até ficarmos vulneráveis e despidos perante o juízo de Deus?

 

11. Jesus é pregado na Cruz

Jesus é estendido sobre a Cruz que carregou e as suas mãos e pés são pregados. A sua dor, o seu sangue derramado, representam o sacrifício pela nossa remissão dos pecados. Por cima da sua cabeça, escreveram as palavras "Este é Jesus, o rei dos Judeus". Esta era a acusação pela qual fora crucificado; esta era, afinal, a derradeira verdade, que os homens só iriam compreender depois. A sua acusação, escrita por cima do seu corpo na Cruz, para que todos soubessem porque havia sido crucificado, foi, afinal, a profecia realizada. 

 

Lucas, 23, 33-34:

«"Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-no a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: “Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem”»

 

Vale a pena refletir sobre...

A crucificação de Jesus e o seu exemplo de sacrifício, de coragem e de profundo amor. Perante Jesus pregado na Cruz, de que forma podemos redimir-nos também individualmente dos nossos pecados e aproximarmo-nos na nossa vida do amor de Cristo? De que forma podemos sacrificar-nos pelos outros, pelo bem dos outros, pelas pessoas que estão à minha volta e que fazem parte da comunidade em que me insiro?

 

12. Jesus morre na Cruz

Lucas 23, 44-46:

"Por volta do meio-dia, as trevas cobriram toda a região até às três horas da tarde. O sol tinha-se eclipsado e o véu do templo rasgou-se ao meio. Dando um forte grito, Jesus exclamou: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. Dito isto, expirou".

Jesus morre enfim na Cruz, entregue a Deus. A morte de Jesus representa o culminar do seu sacrifício: Jesus sofreu um longo caminho penoso, carregando às costas o peso dos nossos pecados, e morreu para nos libertar deles. 

 

Vale a pena refletir sobre...

Até que ponto nos damos? Onde é que nos deixamos "morrer" em nome de algo maior que nós? Até que ponto somos capazes de dar a nossa própria vida, de abdicar daquilo que de mais precioso temos, por alguém ou por alguma causa?

 

13. Jesus é retirado da Cruz e entregue a sua mãe

José de Arimateia, um dos discípulos de Jesus, pedira a Pilatos que permitisse retirar o corpo de Jesus da Cruz, para ser sepultado segundo os costumes dos judeus. Como era nobre e tinha uma boa influência junto de Pôncio Pilatos, José de Arimateia conseguiu que ele concordasse. Jesus foi, assim, retirado da Cruz, e o seu corpo desfalecido foi entregue nos braços de sua Mãe, Maria. José de Arimateia e Nicodemos, um membro do Sinédrio (a assembleia de juízes judeus) que Jesus convertera, envolveram o corpo de Jesus com panos embebidos numa mistura de mirra com aloes, como era costume fazer. 

Esta estação da Via Sacra lembra que os fiéis existem. Quando Jesus é descido da Cruz, esperam-no os braços de Maria. Com ela está Maria Madalena. José de Arimateia pede por ele, por amor a ele. Os que verdadeiramente nos amam são aqueles que estão connosco nos momentos em que já nada temos para lhes dar.

 

Vale a pena refletir sobre...

Quem nos recebe de braços abertos quando perdemos as forças? Em que braços encontramos o amor de Deus? De que maneira é que Deus nos mostra que nunca estamos sós?

 

14. Jesus é sepultado

Jesus é então colocado no sepulcro, um túmulo novo que estava ainda vazio. O silêncio do sepulcro é o espaço onde a esperança renasce. Esta estação da Via Sacra lembra que Deus está sempre presente. Mesmo quando tudo parece perdido. Sobretudo quando tudo parece perdido.

 

Vale a pena refletir sobre...

A voz de Deus dentro de si. Só podemos ouvir a voz de Deus dentro de nós quando silenciamos todas as outras, incluindo a do nosso ego. Só quando tudo o resto dentro de nós se apaga é que a voz de Deus se acende. Só quando nos permitimos confiar para além do que já conhecemos, do que sabemos ser possível, estamos verdadeiramente a ouvir a voz de Deus. É ao enfrentar a perda que recebemos as dádivas de Deus.

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