Terapias
"Nesse período conturbado em que a personalidade se desenvolve e em que o corpo assiste a mudanças constantes, as crianças dóceis tornam-se adolescentes às vezes críticos, outras instáveis. Tanto manifestam ainda comportamentos infantis de apego e crises de mimo, como no momento a seguir podem já assumir uma postura de desafio em relação aos pais, questionando-os e pondo em causa as suas atitudes e decisões.É muito importante manter sempre um diálogo sincero com os seus filhos e ser honesto com eles, sendo especialmente importante que exista na sua relação este espaço para a frontalidade. As crianças aceitam mais facilmente aquilo que lhes é dito, pois ainda não têm a autonomia e as estruturas mentais para questionarem o que lhes é imposto. Na adolescência, contudo, o caso muda de figura, pois o pensamento abstracto desenvolve-se, assim como o sentido crítico, e o jovem analisa e questiona tudo aquilo que lhe é dito. Ser sincero e comunicar abertamente com os seus filhos é fundamental para que eles possam sentir nos pais um apoio com que podem contar, sem terem medo e sem reprimirem a sua opinião ou ocultarem os seus sentimentos. Quando uma mãe ou um pai repete inadvertidamente «Não faças isso!» ou «Isso não se diz!», tem de lhes explicar por que razão os proíbe, caso contrário os filhos podem deixar de se expressar, passando a reprimir a manifestação daquilo que sentem e pensam, e deixam de comunicar. Quando tal acontece, abre-se espaço para que surjam medos e receios, na maior parte das vezes infundados, que vêm mais tarde a degenerar em bloqueios, até inconscientes, que se manifestam na idade adulta. Para evitar que isto aconteça, converse sempre com os seus filhos, dedique-lhes tempo e faça um esforço por compreender aquilo que eles precisam de lhe dizer e a mensagem que subjaz às suas atitudes. Um comportamento rebelde esconde na maior parte das vezes uma necessidade de atenção, de ser ouvido, de ser aceite e compreendido. Como adultos responsáveis pelos filhos que trazemos ao mundo, cabe-nos a nós incentivar os nossos filhos a serem honestos e dizerem abertamente aquilo que sentem, o que os motivou a adoptar determinado comportamento ou por que razão tiveram certa atitude. Ser amigo dos filhos é muito importante, para que exista essa confiança e cumplicidade que permite a abertura e o diálogo, mas é também fundamental manter sempre presente na sua cabeça que o papel de mãe e pai não se pode confundir com o de um amigo ou colega da escola. É importante que os filhos vejam os pais como amigos, sim, mas sobretudo como figuras de autoridade, a quem devem respeito, por quem é fundamental terem consideração e lealdade. Alguns pais, na tentativa de se aproximarem dos filhos, caem no exagero de se comportarem como colegas deles, perdendo por completo o domínio da sua educação, sendo incapazes de impor a sua autoridade quando se torna necessário. É importante, para o desenvolvimento de um jovem, saber que existem limites, conhecê-los e saber respeitá-los. Quando isso não acontece, em adultos sentem-se perdidos, sem nada que os contenha ou que lhes indique até onde podem ir. Cresceram a sentir-se poderosos e triunfantes em todas as situações e convencidos que podem fazer sempre o que querem sem levarem em consideração aquilo que os outros pensam ou querem, pois não existiam travões às suas vontades, caprichos e desejos. A vida adulta é, então, muito mais dolorosa, pois aquilo que os pais toleravam, pelo amor incomensurável que tinham por eles, não será tacitamente aceite pelos outros, trazendo-lhes dissabores e amarguras que seriam facilmente evitáveis, se tivessem tido uma educação equilibrada. Educar um filho é prepará-lo para ser um adulto autónomo e independente, respeitador dos outros e com respeito por si próprio, que sabe valorizar-se e dar valor aos que consigo vivem, com justiça e igualdade. Ser mãe e pai é um «trabalho» a tempo inteiro e uma missão que persiste até ao fim da vida, mas na maior parte dos casos é um papel que tem de ser conciliado com uma actividade profissional, com a relação com o companheiro, com a família e com os amigos, e principalmente com a relação consigo próprio. Encontrar tempo e disponibilidade para estar, realmente, com os filhos, para se dedicar a ouvi-los, a conversar com eles, a partilhar momentos, exige flexibilidade e uma boa dose de resistência, mas compensa mais do que qualquer prémio ou remuneração. Ver, conforme os anos vão passando, os nossos filhos crescerem e tornarem-se adultos de quem nos orgulhamos, e a quem fomos capazes de transmitir valores, é a maior recompensa que um ser humano pode receber."
* Texto retirado do livro O Meu Segredo, de Maria Helena
Aprenda a lidar com filhos adolescentes - Consultas no Centro Maria Helena
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