Terapias
Na era em que vivemos tudo acontece de uma forma mais rápida e descomprometida do que sucedia noutros tempos. A valorização da liberdade individual é indispensável e necessária, e é uma árdua conquista, mas pode trazer consigo alguns abusos - afinal, onde termina a nossa liberdade e começa a do outro? O termo ghosting (tornar-se fantasma) começou a ser popularizado em 2015, designando o fim súbito de uma relação, no qual a pessoa deixa pura e simplesmente de responder a telefonemas e mensagens, desaparecendo das redes sociais e de todas as formas que eram usadas como contacto na relação. Como lidar com o fim de uma relação que não acabou?Com a importância que as redes sociais assumem na era digital é fácil de compreender que muitos namoros, romances, paixões e flirts comecem e acabem justamente no Facebook, no Instagram ou no Twitter, já para não falar nas aplicações que visam encontrar o par perfeito e promover encontros entre pessoas demasiado ocupadas para saírem e conhecerem outras pessoas "ao vivo e a cores" antes de terem qualquer outra abordagem com elas. Até aqui, nada de novo. Há já algumas décadas que é assim. No entanto, com a brevidade com que tudo é resolvido hoje em dia - vivemos a cumprir tarefas e a atingir objetivos, compramos objetos que dispensamos pouco tempo depois, também as relações não escapam a esta facilidade com que deitamos fora o que já não precisamos. E se é bem verdade que não devemos, a bem da nossa felicidade e até da dos outros, arrastar connosco aquilo que já não nos serve, também é verdade que todas as pessoas com quem vivemos algum tipo de relação e que, em algum ponto da sua vida, estiveram ligadas a nós, merecem o respeito de uma explicação, de uma justificação que lhes permita por um ponto final numa história que não vai continuar.Ainda assim, muitas pessoas adotam outras atitudes - tantas que o termo inglês ghosting (que significa, literalmente, tornar-se um fantasma) começou a ser usado em 2014 e ganhou cada vez maior impacto, passando a fazer parte do dicionário Collins. Estudos feitos apontam para os danos que o ghosting causa nas suas vítimas e para as falhas que ele revela sobre quem o pratica. Esta prática sempre existiu, mas a era digital fez com que ela se amplificasse a níveis muito mais elevados. Afinal, no tempo em que as pessoas se conheciam em locais públicos era mais difícil "deixar de aparecer" nos sítios onde era habitual encontrarem-se, fazendo com que a pessoa que deseja desaparecer tivesse de mudar completamente os seus próprios hábitos. A chamada geração millenials (nascida entre os anos 80 e os primeiros anos depois de 2000) que representa os jovens adultos da atualidade pratica e/ ou foi vítima de ghosting em larga escala, embora noutras gerações ele também aconteça. Hoje em dia existem até outros termos para designar este tipo de relacionamentos com finais indeterminados. Possivelmente já foi vítima, ou conhece alguém que foi, de pelo menos um deles: - Ghosting (tornar-se um fantasma) - quando uma pessoa deixa de responder a mensagens, telefonemas, e desaparece das redes sociais sem dar qualquer explicação à outra, terminando assim um relacionamento através de um silêncio permanente. - Submarining (ser como um submarino), também chamada Zombieing (ser como um zombie) - a pessoa desaparece sem dar justificações, tal como acontece com o ghosting, mas volta a aparecer algum tempo depois, como se nada tivesse acontecido, desaparecendo novamente para reaparecer mais adiante, sempre sem explicações. - Breadcrumbing (atirar migalhas de pão) - a pessoa vai mantendo o interesse da outra através de mensagens que parecem indiciar um interesse ou algum tipo de intenção, sem passar disto, feito com a intenção de ter a outra pessoa sempre "à mão". - Cushioning (usar como "almofada") - quando a pessoa mantém vários pretendentes "em banho-maria" para ir percebendo com quem quer realmente ficar, ou se é que quer ter uma relação séria com algum deles. - Stashing (deixar à margem, numa tradução mais livre. Stashing designa esconder, colocar no cesto da roupa, entre outros usos) - quando a pessoa com quem tem uma "relação" não a assume publicamente, não lhe apresenta a nenhum amigo nem aos familiares, não tem qualquer demonstração pública de que está ligado a si, apesar de você apresentar os seus amigos, a sua família, etc.
Porque é que as pessoas fazem isto?Este tipo de comportamento denota a dificuldade em lidar com compromissos sérios e com os próprios sentimentos, o que pode tratar-se de um traço enraizado na personalidade da pessoa ou ser resultado de uma fase que esta está a atravessar, surgindo na sequência do fim de um relacionamento sério, por exemplo. Ainda assim, todas estas tendências, seja qual for o seu nome, mostram alguém que não tem consideração nem respeito pelos sentimentos da outra pessoa, deixando-a a lidar sozinha com um silêncio onde cabem mil interpretações e explicações para o fim da relação. As pessoas que agem assim mostram também dificuldade em lidar com os conflitos, evitando os confrontos. São cobardes na sua incapacidade de dizerem abertamente ao outro que já não estão interessadas na relação, ou pelo menos não consideram que a pessoa em causa lhes mereça esse tipo de esforço.
Como lidar com o fim de uma relação que não acabou?Identificar o fim de uma relação quando a outra pessoa simplesmente "desaparece" não é fácil, pois surge de uma forma inesperada, criando confusão, angústia, ansiedade, dúvidas e sentimentos de culpa na pessoa que é vítima de ghosting - "o que é que eu fiz para ele/ ela desaparecer?". A primeira coisa a fazer, assim que identifica esta situação, é ACEITÁ-LA. Se a pessoa deixou de responder /atender ou contactar consigo, se já passaram alguns dias e não houve uma explicação aceitável da parte dela, ou se nem sabe nada dela, a não, obviamente, que se trate de um caso de Polícia, isto indica que esta relação acabou. E como tal, deixe de ter expetativas de que esta pessoa pode voltar a surgir novamente. Só ao convencer-se desse fim pode fazer o luto devido e seguir em frente. Para ajudá-lo a seguir em frente, compreenda que esta pessoa não teve a maturidade emocional para lidar consigo numa base de respeito e igualdade. Portanto, o dano que ela iria provocar na sua vida se nela continuasse faz com que não tenha de lamentar por já não estar com ela. Evite cair na tentação de procurar explicações, respostas e justificações. NÃO TEVE NADA A VER CONSIGO. Cada um de nós leva consigo o seu mundo e a sua história, e a razão pela qual essa pessoa desapareceu sem deixar rasto teve a ver consigo própria e não com as atitudes que você teve ou deixou de ter para com ela. Quando alguém nos ama ou nutre afeto e sentimentos positivos por nós não nos deixa a pairar no vazio, sem uma explicação. Se esta pessoa agiu assim consigo ela tem assuntos para resolver consigo mesma, pode ser ou estar emocionalmente indisponível mas, acima de tudo, não merece o seu amor. Cuide melhor de si e da sua auto-estima. Liberte-se de sentimentos de culpa e procure passar mais tempo com pessoas que o fazem sentir-se bem consigo mesmo, que lhe lembram o quão bonito e especial é e que o vão ajudar a sarar o seu coração. SÃO ESSAS AS PESSOAS QUE VALEM A PENA E QUE MERECE TER NA SUA VIDA. Veja também: |